Minha lista de filmes budistas

Meu interesse pelos aspectos filosóficos do budismo começou há vários anos, quando li meu primeiro livro sobre o tema. Ao retomar estes estudos muito tempo depois, busquei uma lista de filmes budistas - ou pelo menos com alguma referência ao tema - com o objetivo de ilustrar minhas leituras. Compartilho abaixo aqueles que, na minha opinião, trazem um material para reflexão mais interessante e de maior densidade.


1. Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera (2003)
Diretor: Kim Ki Duk
País: Coreia do Sul

Através da passagem das quatro estações, esta obra retrata o eterno retorno da vida. Um monge budista e seu discípulo vivem em uma casa flutuante sobre um lago, cercado de belíssimas montanhas e isolados da civilização. Assim como as estações, cada aspecto de suas vidas é introduzido com uma intensidade que conduz ambos a uma grande espiritualidade e à tragédia. Eles também estão impossibilitados de escapar da roda da vida, dos desejos, sofrimentos e paixões que cercam cada um de nós. Através dos olhos atentos do velho monge vemos a experiência da perda da inocência do jovem discípulo, o despertar para o amor quando uma mulher entra em sua vida, o poder letal do ciúme e da obsessão, o preço do perdão, o esclarecimento das experiências. Assim como as estações vão continuar mudando até o final dos tempos, na indecisão entre o agora e o eterno, a solidão será sempre uma casa para o espírito.


2. Por que Bodhi-Dharma partiu para o Oriente? (1989)
Diretor: Yong-Kyun Bae
País: Coreia do Sul

Este filme talvez seja o mais sério e o de mais difícil compreensão desta lista. Foi filmado com apenas uma câmera, e levou sete anos para ser concluído. É um filme meditativo, que acompanha a vida de três monges budistas: uma criança, um adulto e um velho mestre. Seu título é uma pergunta, mas esta pergunta não encontra resposta, o que ressalta o caráter filosófico da obra. A história é basicamente sobre Yong Nan's, o monge adulto, e é contada em flashbacks: mostra como ele chegou ao monastério do velho mestre, seu breve retorno à cidade, suas vacilações diante da turbulência do mundo e sua esperança de superar as paixões e escapar da ideia do eu.




3. Samsara (2001)
Diretor: Pan Nalin
País: Índia/Itália/França/Alemanha

Samsara é uma "história de amor espiritual". Filmada nas imponentes locações geladas do Himalaia, nesta obra acompanhamos as buscas empreendidas por duas pessoas de origens bem diferentes. Um jovem monge budista, depois de passar três anos meditando solitariamente nas montanhas, é levado de volta a seu monastério, onde recupera suas forças. Em um passeio na aldeia, conhece Pema, se apaixona à primeira vista e desiste de sua vocação, mas não sem conflitos. De um lado, temos um homem que procura pelo esclarecimento espiritual por meio da renúncia ao mundo real. De outro, uma mulher quer encontrar um amor e uma nova vida inserida no mundo. Essas duas buscas, em determinado momento, se cruzarão e conectarão irreversivelmente a vida dos personagens.


4. Siddhartha (1972)
Diretor: Conrad Rooks
País: EUA

Baseado na famosa obra literária homônima de Hermann Hesse, o filme conta a história de um jovem que aos 18 anos de idade escolhe transformar a busca pela perfeição em sua meta principal de vida. Para isso ele deixa a casa de seus pais, a qual lhe proporcionava uma condição materialmente abastada, mas de grande pobreza espiritual. Siddhartha parte em sua jornada rumo ao autoconhecimento, torna-se discípulo de Buda, asceta, e busca cada vez mais o caminho da Iluminação. Uma jornada sem igual em busca da alma humana e do verdadeiro Eu.





5. Zen (2009)
Diretor: Banmei Takahashi
País: Japão

Este filme retrata a vida de Dogen Zenji (1200-1253), um dos maiores filósofos e nomes do Zen-Budismo que já existiu, fundador da Escola Zen Soto, no Japão. Abrir mão de tudo, rendendo-se ao fluxo da natureza e somente sentando-se em meditação. Isto é a essência do Budismo Zen de Dogen. No 13º século, Dogen, um jovem monge japonês viajou à China, determinado a encontrar seu verdadeiro mestre. Lá, ele encontrou um monge que lhe ensinou que a meditação Zen é o verdadeiro e único caminho à iluminação. Voltando, esclarecido, ao Japão, Dogen arriscou a sua vida para divulgar o Budismo Zen, inspirando milhões de budistas que o praticam ao redor do mundo hoje.


6. The Buddha - The Story of Siddhartha (2010)
Diretor: David Grubin
País: EUA

Com narração de Richard Gere e participação do Dalai Lama, este documentário é uma introdução básica à história de Siddhartha Gautama e também aos vários mitos contruídos sobre sua figura. Por volta do ano 400 a.C., uma nova filosofia surgiu no sudeste da Ásia, a partir das ideias de Buda, um misterioso príncipe do Nepal que alcançou a Iluminação sentado sob uma grande figueira. Buda nunca se declarou um deus ou um emissário na terra. Ele dizia apenas que havia encontrado um tipo de serenidade que todos também poderiam encontrar.





7. Erleuchtung garantiert (1999)
Diretor: Doris Dörrie
País: Alemanha

Gravada em estilo Roadmovie, a comédia Iluminação garantida (tradução livre) conta a história de dois irmãos, Uwe e Gustav, que tentam encontrar a si mesmos. Gustav é abandonado pela mulher da noite para o dia, e entra em crise. Ao procurar o consolo do irmão Uwe, que está de partida para um mosteiro no Japão, acaba embarcando também. Ambos se perdem na selva de neon de Tóquio, não encontrando o caminho de volta para o hotel após saírem para jantar. Sem dinheiro, sem cartão de crédito e sem falar japonês, sentem-se em outro planeta, sendo obrigados a se desapegar de tudo. Quando conseguem, enfim, chegar ao mosteiro, as práticas zen budistas transformarão suas vidas.


8. O Pequeno Buda (1993)
Diretor: Bernardo Bertolucci.
País: Reino Unido/França/Liechtenstein

Este filme, do consagrado diretor Bernardo Bertolucci, me pareceu enfatizar mais o aspecto religioso do que o filósofico-existencial do budismo, e esta é uma das razões para figurar como um dos últimos de minha lista. Minha resistência em assistí-lo, no entanto - pois me parecia hollywoodiano demais - resultou em uma grata surpresa. É uma obra interessante também para quem busca uma introdução ao budismo, pois nele a história do príncipe Siddhartha Gautama - o Buda - é contada de maneira intercalada com os acontecimentos principais do filme. E Siddharta é interpretado por ninguém menos que Keanu Reeves (o Neo, de Matrix).

Um dia, ao voltar para casa, o arquiteto Dean Conrad (Chris Isaak) encontra dois monges budistas tibetanos, Lama Norbu (Ruocheng Ying) e Kenpo Tensin (Sogyal Rinpoche), sentados na sua sala de estar, conversando com Lisa (Bridget Fonda), sua esposa. Guiados por vários sonhos perturbadores, os monges viajaram do Nepal até Seattle pois acreditam que um garoto de 10 anos, Jesse (Alex Wiesendanger), o filho de Dean, possa ser a reencarnação de Lama Dorje (Geshe Tsultim Gyelsen), um lendário e místico budista. Inicialmente Dean e Lisa ficam céticos, especialmente quando os monges manifestam interesse em levar Jesse para o Butão, na intenção de comprovar ou não se ele é a reencarnação de Lama Dorje. Porém após o suicídio de Even, um sócio de Dean, este muda de idéis. Após deixar Lisa nos Estados Unidos, Dean viaja com o filho para o Butão.

ATENÇÃO

Os filmes abaixo constam em várias listas de filmes budistas pela internet, mas não estão na minha. Estou relacionando-os apenas para mencionar por qual razão não gostei deles.


Sete anos no Tibet (1997)
Diretor: Jean-Jacques Annaud
País: Reino Unido , EUA

Este filme é baseado no livro homônimo de Heinrich Harrer, que é interpretado por Brad Pitt. Harrer, o mais famoso alpinista austríaco, tentou algo quase impossível: escalar o Nanga Parbat, o 9º pico mais alto do mundo. Egocêntrico e, visando somente a glória pessoal, Heinrich viajou para o outro lado do mundo deixando sua mulher grávida e um casamento em crise. Ele não conseguiu o feito, mas quando a Inglaterra declarou guerra à Alemanha ele foi considerado inimigo, por estar em domínio inglês. Feito prisioneiro de guerra, ele fugiu após várias tentativas junto com Peter Aufschnaiter (David Thewlis), outro alpinista, se tornando os únicos estrangeiros na sagrada cidade de Lhasa, Tibet. Lá a vida de Heinrich mudaria radicalmente, pois no tempo em que passou no Tibet se tornou um pessoa generosa além de se tornar confidente do Dalai Lama.
 
O roteiro da obra me pareceu superficial. Pelo que se anuncia no filme, esperava um envolvimento mais sério de Harrer com tudo aquilo que ele aprendeu no Tibet, mas pouca transformação se operou no personagem. Além disso, a questão do budismo aparece apenas de fundo na história, a qual, por sua vez, parece mais uma peça de propaganda anticomunista devido à maneira simplista como ela retrata o conflito entre o Tibete e a China.

Kundun (1997)
Diretor:  Martin Scorsese
País: EUA 

Em 1933, morre o décimo-terceiro Dalai Lama. Quatro anos depois, em uma remota área do Tibet, é encontrado um menino de dois anos, identificado como a reencarnação de Dalai Lama, o "Buda da Compaixão". Dois anos mais tarde, o garoto é levado para Lhasa, onde é educado como um monge e preparado para se tornar um chefe de estado. Quando tem 14 anos passa a enfrentar problemas com a China, que pretende tomar posse do Tibet.

Nas palavras do crítico de cinema Rubens Ewald Filho, Kundun tem "um roteiro muito fraco [...] que Scorsese tenta salvar pelo esplendor visual (a música de Philip Glass faz o possível para criar um certo clima)". No entanto, continua Ewald, "o resultado é artificial, como se o diretor fizesse um filme de férias de encomenda, preocupado mais com o exotismo e o efeito fácil. Foi muito barulho por muito pouco."

Ewald também observa que Kundun conta a mesma história que Sete anos no Tibete, só que este último o faz do ponto de vista de um alemão. Concordo plenamente com a relação apontada entre os dois filmes. Após assistir a ambos, em sequência, fiquei com a impressão de que são pouco mais que duas peças de propaganda anticomunista. A representação que Kundun faz do líder Mao Tsé-Tung revela uma construção muito simplória do personagem.

(Sinopses adaptadas do site Filmow)

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